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Herpes zoster. Óleo de trigo queimado trata a “zona”?

19 Jul 2023 - 10:31
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Herpes zoster. Óleo de trigo queimado trata a “zona”?

A ideia de que o óleo de trigo queimado ou torrado é eficaz no tratamento do herpes zoster – também conhecido como “zona”, “cobro” ou “cobrão” – é antiga. No entanto, continua a ser partilhada dentro e fora das redes sociais.

A utilização deste composto natural é conhecida em várias regiões do país. Num artigo, publicado em 2005, na Revista “Medicina Interna” da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, descreve-se a aplicação do suposto “tratamento” de óleo de trigo queimado por um ferreiro, num bairro periférico de Évora.

O ferreiro “aqueceu na forja, até ao rubro, uma barra de ferro que colocou na bigorna sobre um punhado de trigo tremês”, escreve o autor. Depois, “com um pedaço de pano, recolheu depois o ‘óleo queimado’ que ficou na bigorna e aplicou-o sobre a lesão herpética”.

Mas há evidências científicas da eficácia do óleo de trigo queimado no tratamento do herpes zoster?

É verdade que o óleo de trigo queimado trata o herpes zoster?

O herpes zoster é “uma infeção causada pele reativação do vírus varicela-zoster, que fica alojado nas células nervosas do nosso corpo após termos tido varicela”, começa por explicar Diana Miguel, dermatologista no Centro de Dermatologia de Lisboa e no Hospital CUF Descobertas, em declarações ao Viral.

O desenvolvimento desta condição é “frequente” em pessoas com “idades mais avançadas ou com o sistema imunitário mais debilitado”.

Mas será o óleo de trigo queimado uma solução? Na verdade, a aplicação deste óleo não tem efeitos comprovados no tratamento do herpes zoster.

Diana Miguel confirma ao Viral que “não existe nenhum estudo que comprove que o óleo de trigo trata esta doença”. 

Aliás, a especialista ouvida pelo Viral alerta que há pessoas que podem ser alérgicas aos componentes deste óleo – em particular ao trigo – e reforça que “não há estudos sobre o uso de óleo de trigo queimado na pele”.

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Apesar de não haver riscos conhecidos para a aplicação de óleo de trigo queimado na pele, a substituição do tratamento médico pela utilização deste método natural sem eficácia comprovada pode comprometer a recuperação. Isto porque é importante que haja uma atuação rápida perante os sintomas de herpes zoster.

Diana Miguel adianta que o tratamento para o herpes zoster passa pela “administração oral de um antivírico nas primeiras 72 horas do quadro clínico e durante sete dias”. Em casos graves, poderá ser necessário “fazer medicação por via endovenosa”, acrescenta.

“Quando não tratado, o quadro pode evoluir para uma dor crónica, ‘nevralgia pós-herpética’, pelo que é muito importante o tratamento na fase aguda da doença”, vinca a dermatologista.

Num texto informativo publicado no balcão digital do Serviço Nacional de Saúde (SNS 24), sublinha-se que “para tratar o herpes zoster é importante recorrer o mais rápido possível a um médico, uma vez que uma atuação precoce sobre a infeção é fundamental para um tratamento eficaz”.

As vesículas (pequenas bolhas) “devem ser tratadas na fase exsudativa com uma pasta de óxido de zinco e, mais tarde, com creme cicatrizante”, aconselha ainda a dermatologista Diana Miguel.

Caso as lesões se encontrem em áreas que possam estar expostas ao sol, é também importante “usar protetor solar” durante a fase de cicatrização, para “prevenir a hiperpigmentação pós-inflamatória”.

Como se desenvolve o herpes zoster e quais os sintomas?

Para quem foi infetado previamente por varicela, o herpes zoster surge por reativação do vírus numa situação em que o sistema imunitário esteja mais comprometido. 

Quer isto dizer que o vírus que provocou a varicela (que normalmente ocorre na infância) ficou adormecido no corpo até se manifestar novamente em forma de herpes zoster.

Por outro lado, se nunca teve varicela, também poderá ser contagiado pelo vírus Varicella-Zoster através do contacto com as vesículas de uma pessoa infetada. O período de incubação dura, geralmente, entre oito e 21 dias após o contacto.

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Os principais sintomas desta doença são “dor intensa ou comichão na pele”, seguido de “manchas vermelhas que evoluem para bolhas (vesículas) com líquido e, posteriormente, crostas”, descreve-se no texto publicado no site do SNS 24. 

Os pacientes podem também experienciar sensação de calor, dormência ou formigueiro nas zonas afetadas, febre, calafrios, dores de cabeça ou desconforto abdominal.

É aconselhado que as pessoas cubram as vesículas, não toquem ou cocem as bolhas, lavem as mãos com frequência e evitem contacto com pessoas de risco (nomeadamente grávidas que não tenham tido varicela, bebés prematuros ou pessoas com sistema imunitário enfraquecido) até que as bolhas se transformem em crosta.

O herpes zoster “pode manifestar-se em qualquer área da pele do nosso corpo, mas é mais frequente na região torácica e no dorso”, acrescenta Diana Miguel.

Por ser uma doença que afeta pessoas com mais de 50 anos ou que tenham um sistema imunitário comprometido, a dermatologista lembra que “é possível fazer a vacina como prevenção”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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Dermatologia

19 Jul 2023 - 10:31

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